Não estás sozinha!

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Não estás sozinha, estou aqui contigo, estive sempre, nunca te abandonei, mesmo quando o fizeste!

Estou a olhar-te, agradecida e envergonhada, porque afinal foi apenas um interregno e mesmo assim tu esperaste quieto e a vigiar-me de longe. Eu até sabia que não resultaria, que não seria aquele o meu caminho, mas insisti e fui. De braços abertos ofereces-me o que estava a precisar, apertas-me de mansinho e sinto os teus lábios nos meus cabelos. Estou frágil, como nunca viste nem sentiste antes e até a ti te assusta.

- Porque não me consegues amar assim? Eu teria ido buscar a lua e removido tudo o que te pudesse afastar.

Perdoa-me até pelas lágrimas que me escorrem agora e que não são tuas, nem para ti. Perdoa-me a cegueira, a incoerência e a burrice. Juro que se pudesse escolher serias tu, como estás agora e como sempre estiveste de cada vez que sentias a minha voz a fraquejar. Já me cuidaste em tantas noites que te falava dele, em que ouvias, uma e outra vez as mesmas coisas e nunca recusavas uma palavra, uma explicação, um "vai passar", "ele vai entender", mas não entendeu, não como o fazes tu.

- Sabes o que te digo? Acabaram-se as palmadinhas nas costas, ele não te merece, não sabe o que fazer contigo, então que me deixe fazer o que já aprendi, porque eu sim conheço-te. Eu sei como adormeces e como acordas, ainda mais bonita, como se tal fosse possível. Eu sei como danças, de que forma as tuas ancas se movem como se estivesses a fazer amor. Sei para que lado tomba, ligeiramente, a tua cabeça, os teus cabelos sedosos e brilhantes, quando escreves, apaixonada, porque tu apaixonas-te por tudo o que mexe e isso sente-se em cada palavra. Eu cresci a saber de ti. Eu respiro-te e por isso mereço que passes a olhar-me como o único homem que te dará o que já procuras há demasiado tempo. Estou aqui, acabou-se, mais ninguém te levará de mim, entendeste?

Não respondi. Não o fiz porque me cansei de procurar o arco-íris, talvez tenha razão e agora me deva deixar ir, agarrando a mão que nunca me foi recusada. Agora sei que não estou sozinha, mas afinal parece que nunca estive!

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