Cartas...



Cartas, já não as recebemos. Já não nos deixamos ficar com as conversas longas, cheias de adjectivos e palavras que saberíamos tão bem adoçar. Já não nos olhamos para além dos olhares necessários e permanecemos, grande parte do tempo, à espera do que poderíamos receber, se ao menos também fossemos capazes de enviar.

Cartas, sobretudo de amor, de sentimentos que os lábios quase sempre calam. Cartas que se abririam em frenesim, antecipando o prazer de ler cada palavra misturada em todas quantas nos diriam, sem qualquer dúvida, o que representamos na vida de alguém.

Cartas, sobretudo de esperança, a que precisamos de manter dia-a-dia todos os dias da nossa vida, para nunca quereremos, ou sequer vislumbrarmos, um futuro sem remetente nem destinatário.

Cartas como já ninguém parece saber escrever, porque acreditamos cada vez mais, com enorme razão, que as palavras não se retiram e provocam, por vezes, danos irreparáveis.

Cartas que te vou escrevendo mentalmente, mas incapaz de as reproduzir, pelo medo de te assustar com a minha intensidade, e tu até sabes que o sou.

Cartas que ficariam para nos recordarmos, bem lá mais à frente, do quanto fomos capazes de sentir.

Cartas, já quase ninguém as escreve, talvez por isso devêssemos instituir o dia das cartas e quem sabe assim não retomaríamos o hábito de usar as palavras, com todo o poder que carregam...

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